quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Olhos oblíquos

Os dois se olhavam e não sabiam o que fazer. A sensatez de ambos pedia-lhes que se afastassem, seguissem com seus caminhos, seguissem com sua vidas, levando o outro apenas nas lembranças, em uma melodia ou imagem qualquer. Mas ambos queriam permanecer ali, e dali só sair com as mãos atreladas fielmente, prontos pra afrontar o que quer que fosse. A coragem da adolescência. Já dizia Machado de Assis, que 'aos 15 anos tudo é uma eternidade'... Aos 17 também. Mas, havia algo errado ali. A cena não estava escrita corretamente. Deveriam enfrentar. Poderiam passar por cima de toda a sensatez e lucidez e arriscar! Sim, experimentar, tentar, viver de verdade. E eu, que de longe observava a cena, a procura de respostas para perguntas que agora me assombravam todas as noites, perguntei-me que diabos estavam fazendo, despedindo-se tão formalmente. Vi a garota dar adeus ao rapaz, com um aceno rápido e um olhar elusivo. O vi retribuir da mesma forma. A garota deu as costas e seguiu seu caminho, vi uma lágrima escorrer discretamente pela sua face, morrendo em seus lábios. O garoto, não se permitiu chorar, mas a frustração estava presente em seu olhar e no soco que dirigiu a parede em sua frente. Agora, eu via. E tinha todas as respostas, e as novas perguntas. A garota era eu. A cena, era minha reminiscência. A falta de coragem era de ambos. O arrependimento também.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Espera.

Vejo na estande uma foto antiga
Lembro bem daquele dia
Olha como você sorria, amor

Lembro daquelas tardes todas
Que ficavamos ali sem ter o que fazer
Falando bobagens
Vendo a noite nascer

Com você eu gasto todo o tempo do mundo
Estar contigo me faz bem
Me faz sorrir, me faz querer nunca me afastar
Eu nunca quero me afastar de ti

É difícil te olhar tão perto e nada sentir
Mais difícil é me limitar
E não dizer todas as coisas que sinto

Como você entenderia o meu "eu te amo"?
O que você faria se eu te disser que amo tanto?

Vamos esperar a hora certa, amor
Vou te esperar o tempo que for
Se você disser que volta
Eu vou esperar, amor

sábado, 13 de dezembro de 2008

Ana Alice - II

Era fim de tarde
Quando Ana quis sair pra ver o sol
Ela quis esquecer o que te fez lembrar
Que na verdade ela não o esqueceu

Era quase tarde demais
Quando Ana parou pra tomar um café
Numa esquina qualquer
Ela esperou o sol cair no mar pra voltar

Ana pede um alguém perfeito
Ana quer alguém sem defeitos

Era cedo demais
Quando Ana chegou em casa e quis deitar
E ligar bem baixo o rádio
Ouvir uma canção boa pra cantar sozinha

Ela se sentia só demais
E agora, no frio que faz
Ana só queria aquele alguém pra te esquentar
Ela só queria alguém pra conversar

Ana sonha com um alguém perfeito
Ana espera por um alguém sem defeitos

Mas o que ela não sabia
É que ninguém esse alguém jamais viria
E quando abrisse os olhos
Lá ele não estaria

Ana se apaixonou por alguém perfeito
Ana se apaixonou por um alguém que nunca viu direito

sábado, 8 de novembro de 2008

Sonhos

Sonhos... o que falar deles? Muitos dizem que eles são pensamentos, desejos que estão presos em nosso subconsciente. Outros dizem que eles são uma forma que o subconsciente encontra de se comunicar com o consciente. Tem quem acredite que eles sejam desejos de um futuro utópico. Qual o significado deles? Qual a razão atrás de você sonhar comigo? Qual a razão de você me ligar para dizer que sonhou comigo, sem ao menos contar como foi? Eu já pedi para você esquecer. O nosso 'nós' não tem mais volta, se perdeu, em algum lugar por aí. Ficou nas lembranças, fotografias, papéis e em sonhos iguais a este. Olhe para você, você parece perdida, sem saber o que fazer da vida. Esqueça o passado, ele só traz dor. Se perca de mim, e, se um dia eu tentar remendar o passado com o futuro, me esnobe, me deixe preso lá trás. Queira ser feliz, de verdade. Ame-os (a eles) muito, eles são tudo de mais importante que você tem agora. Sim, nós já fomos felizes, mas agora nem mesmo o 'nós' existe mais aqui. Corra atrás da tua vida, esqueça a minha. Veja, você mudou e eu também, não há mais lugar para uma 'maneira mais fácil', vai ter que ser assim, eu sem você e você sem mim.

domingo, 26 de outubro de 2008

Manhãs de Outubro.

Somos dois. E que possa ser assim. Que possamos ser dois. Só que juntos. Sem mais. Sem perguntas de estranhos. Ou de conhecidos. Sem muitas explicações. Sejamos dois. Apenas isso. Eu e você. E algumas canções.

Eu me preocupo com você. Eu penso em nós dois enquanto cruzo a cidade no ônibus lotado. Crio pequenos versos. Mas você ainda não sabe.

Você não diz nada. Mas falam por você. E eu não sei se posso acreditar. Eu não sei se devo acreditar. Mas acredito em algumas coisas. E na medida do possível, me esforço pra que possa dar certo.

E mais que isso, me esforço pra que juntos possamos sorrir. Só. Eu e você.

sábado, 25 de outubro de 2008

15 de abril.

Ela diz que eu sou triste demais. Ela diz que sou mais sentimental do que poetas, que eu falo de coisas que ela está cansada de viver. Ela procura amores, ela não preza muito valores. Ela quer alguém só, ela quer alguém diferente de todos os outros alguens que conheceu. Ela quer alguém que a ame para amar de verdade. Ela quer não querer o que sempre não pode ter. O que vou te dar de presente de aniversário?

sábado, 18 de outubro de 2008

Alvorada

Quis acordar cedo, muito cedo. Queria chegar e ainda encontrar as estrelas lá no céu. Faz frio, muito frio. Acendo o abajur da sala, vou até a cozinha e ponho a água do café para ferver, sem fazer barulho. Abro a porta, sento-me num banco na varanda, e fico ali à olhar. São muitas delas, umas mais brilhantes e outras mais apagadas. Umas parecendo estar mais perto, outras nem tão perto assim. Saber que elas são infinitas, muito maiores do que possamos imaginar e que algumas até já se apagaram é irrelevante nesta hora. Lentamente mudam-se as cores no céu. Preparo meu café, ponho numa xícara qualquer e volto para lá. Sinto vontade de caminhar na praia. Está tão silencioso agora que apenas o som do mar e o canto dos pássaros me distraem. A areia branca, o mar escuro que só se deixa clarear a espuma das ondas, e minha roupa preta. Se qualquer alguém me vir poderá me tachar de maluco, insano, ou outra coisa qualquer, mas eu só queria ver o mar. Eu só queria tentar achar um pouco de paz e voltar. Volto, então, te encontro ainda dormindo. Abro a janela e deixo um pouco de ar entrar. Já está um pouco mais claro, mas ainda escuro. O vento frio te faz encolher-se procurando calor. Sento-me encostado à cabeceira da cama, passo a mão sobre teu rosto tirando os fios claros de cabelo dali. Beijo-te à testa, você sorri procurando uma melhor posição, e dormes. Eu fico a te olhar. Vejo que encontrei minha paz nos braços teus. Teu sorriso é a maior prova de minha felicidade, e entenda minha tranqüilidade como a maior resposta a teu amor.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Papéis que não perdem a cor.

Eu queria lhe oferecer tanta coisa. Passeios nas ruas quentes, escutando aquela música que você tanto gosta. Abraços apertados na fila do cinema. Eu poderia vigiar seu sono dentro do cinema também. Assistindo aquele filme que mesmo engraçado faz chorar. Eu queria acordar cedo. Acordar, tomar café, e te ligar pra saber se você chegou bem em casa, e o que gostaria de fazer a partir de agora.

Aos sábados, à tarde, eu poderia tocar as músicas que venho fazendo pra ti. E mesmo sem saber cantar muito bem, acho que irias gostar.

Andar de mãos dadas por aí (e por aqui). Sorrindo, cantando, e contando sonhos. Talvez você nem acreditasse quando descobrisse que desde aqueles dias (e madrugadas) tão distantes, que falávamos sobre qualquer coisa pra passar o tempo, que desde aqueles dias eu carrego sonhos comigo. E na maioria deles, você está.

Poderíamos ser felizes se quiséssemos.

Eu poderia escrever mais textos pra você. E só pra você. E nesses Domingos de tédio, poderíamos ler todos eles. Juntos. Eu te mostraria meus livros rabiscados. E todos aqueles parágrafos que enquanto lia, pensava em nós dois.

Eu tenho um montão de coisas guardadas aqui comigo. Que eu gostaria imensamente de dividir com você. É só você querer. E se quiser, seremos felizes.

Se você quiser.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Promovendo o Desapego

Tenho pedido forças estes dias. Tenho clamado por esperanças. Eu não encontro mais em mim forças para continuar te esperando. Eu já não consigo mais olhar para mim e acreditar que você não é um sonho. Eu queria poder olhar tua foto e de tanto olhar, de tanto pedir, queria que você podesse se materializar e me abraçar. Só por esta noite, e nada mais. Só um abraço. Só um gesto de carinho destes teus braços frios. Eu queria poder só mais uma vez tocar teus lábios, nem que por alguns poucos instantes. Eu, eu...eu... Eu não sei mais o que dizer. Tudo que se passa na minha cabeça são frases do tipo "Eu te amo", "Eu quero estar contigo o tempo todo", "Eu quero teu abraço", todas as frases que sempre quis te dizer mas nunca tive coragem. Eu vou fechar as janelas, deixar os papéis sobre a cama, tomar as chaves e sair, sem saber que horas voltar. Quero só por hoje te esquecer, só por hoje. Deus, só peço isso. Não, minto. Acima de tudo eu a peço, e me ouve ao menos esta vez. Desespero? que seja, porra! Só penso nela. Só penso em ser feliz com ela, ou melhor, seja como for, feliz ou não, eu vou amá-la de qualquer forma. Tiro o telefone do gancho e deixo ela pensar que esqueci, e que não quero atender. Vamos ver o que vai acontecer quando eu sair daqui, deixá-la sem o apoio e carinho. Vamos ver a falta que faz tudo isso. Vamos ver, deixa estar.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Cinza

Ele nunca soube, que todas as cartas na última gaveta eram pra ele. Ele sempre as via sendo escritas, e nunca questionou o endereçamento. Talvez, eu soubesse que ele temia a resposta, e não saberia como lidar com a condição, como todas as vezes. E talvez ainda, foi isto que me fez perceber que ele era parecido comigo neste ponto, o ponto que eu mais odiava em mim. Minha covardia em relação a expor o que eu sentia, se refletia nas cartas, e a dele, com medo de não ser capaz de lidar com o que poderia vir a ser exposto, ignorava todas as palavras rabiscadas sob pouca luz, nas minhas madrugadas de insônia. E as cartas se acumulavam. E a gaveta ficou pequena. Encher outra gaveta, não adiantaria em nada. A gaveta não sabia ler, a gaveta não era o destinatário. Ele nunca saberá o que estava escrito naquelas cartas antes brancas ou amareladas, e agora, todas em cinzas, espalhadas na grama úmida pelo orvalho, e por uma última lágrima de ressentimento.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sobre estar só.

Ela sentiu minha falta. Perguntei a razão. "Sei lá, gosto de falar com você", disse ela, além de perguntar a razão de meu sumiço e por onde andei. Respondo. Tenho gostado cada vez menos daqui, deste lugar, aqui tem sido frio. Eu estou querendo sentir frio, mas quando houver alguém para abraçar. Eu venho tentando ser mais humano. Eu quero errar por querer aprender a acertar, e esquecer que ser perfeito dói demais. Eu adotei o telefone no lugar de messengers, a voz já é um pouco mais humano do que letras em verde, azul e vermelho. Deixa eu ir agora que eu quero ver estrelas no céu.

sábado, 27 de setembro de 2008

Desde já

Segundo andar, somente som da chuva batendo no telhado e passos apressados no andar de baixo, e ali nós dois. Felipe, agora sei seu nome. Agora tenho seu número. Reencontrei você, e talvez esteja perto de descobrir o motivo por eu querer tanto te encontrar de novo. Somos parecidos, em quase tudo. Agora, resta-me encontrar coragem para ligar pra você, arrancar a mesma coragem que tive em falar com você, daqui de dentro. Falar qualquer coisa. Perguntar qualquer coisa, inventar qualquer desculpa para te ver.Pensei em tudo que vou dizer, perguntar. Não há motivos para inquietação, está tudo esboçado.

(...)

-Alô? - ouvi sua voz e a uma música ao fundo ,ambas calmas; esqueci tudo que eu havia ensaiado dizer,e calma, era algo que não havia em mim, naquele momento.
-Felipe?
-Sim, quem está falando?
-Melissa. De ontem a tarde, na biblioteca.
-Ah, sim. Achei que não ligaria.
-Confesso que quase desliguei quando ouvi o seu 'alô'.
-Porque?
-Não sei, timidez.Esqueci tudo o que iria dizer.
-Ah, deixa que as palavras saiam naturalmente.
-Sim... Hã, você estava ocupado?
-Não. Estava pensando, ouvindo música.
-'Primeiro Andar'
-Adivinhou.
-Ouvi quando você atendeu, gosto dessa banda.
-Mais um ponto em comum.
-Andou pensando nisso também? Quero dizer, no quanto somos parecidos?
-Estava pensando nisto, na verdade.
-Então, estávamos sincronizados. Conte-me, aonde você vai, todos os dias quando passa aqui perto ?
-Lugar nenhum, estou só indo, gosto de andar por aí. Mas sempre sei que passo por aí.
-Amanhã, quando passar, pare aqui pra conversarmos um pouco?
-Tudo bem.
-Então, nos vemos amanhã.
-Certo. Até amanhã Melissa.
-Até Felipe.

(...)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Timidez

Eu a vi novamente, quando não quis mais procurá-la. Era na enome sala do segundo andar, vazio, da biblioteca municipal. Ali, onde é possível ouvir cada passo por causa do silêncio, e por a chuva cair lá fora às 17:16, subitamente escureceu deixando o ambiente ainda mais igual à nós. Devemos ser parecidos, é, devemos. Os lugares onde vou te encontro, nas coisas que faço te vejo, e os tênis que usas serem exatamente iguais aos meus, all-star branco com costuras azul-marinho-muito-escuro. Deveriamos nos conhecer, talvéz, não sei. É até estranho que o vago e inóspito segundo andar seje nosso ponto de partida, talvéz. Um lugar nada igual aos contos de Hollywood, avenidas molhadas pela chuva e marchises coloridas para unir os dois. Mas acho que para nós dois este lugar está bom demais. Agora o mais difícil é saber como abordá-la. Não vou pensar. Vou deixar para mais tarde, vou sair e voltar para casa, preciso deitar.

- Ei, ei! Espere ai você! - ela disse, enquanto eu me virei assustado para saber o que seria.
- Oi? - respondi calma e friamente, tentando esconder a timidez.
- Você não é o garoto que estava sentado na praça naquele dia?
- Hã?...Me desculpa, mas acho que não. - menti.
- Era sim, eu sei, lembro-me bem de ti.
- É, você me parece familiar.
- Tá vendo?! Você lembra. Estranho nos encontramos tanto assim, não?
- [risos] É sim, um pouco estranho. - digo e calo-me deixando o silêncio dominar o andar.
- Me diz então, qual teu nome?
- Meu nome? É..é...
- Esqueceu teu nome? [risos]
- Não, não. É Felipe meu nome. Desculpa, sou tímido.
- Deu para perceber. Sempre calado, com os fones no ouvido e as mãos no bolso. O que tu tanto ouve?
- Ah, umas bandas aí, meio desconhecidas.
- Ah, vai, me diz, quem sabe eu não ouço também. O que é? Você é mais rock? Nirvana? Ramones? Mais calmo como Lennon? McCartney?
- Mais calmo, mas nem tanto beatles, mas gosto sim. Estou ouvindo bandas inglesas, algumas nacionais, coisa pouca.
- Você não gosta muito de conversar, não é?
- Ah, até gosto, mas é que estou atrasado.
- Podemos conversar depois?
- Sim, sim. Pega, meu número.
- Pronto, anotei. Depois te ligo.
- Ok, ok. Agora deixa eu ir.
- Certo.
- Tchau.
- Tchau... Ah, por acaso, meu nome é Melissa.
- Melissa? Certo, certo, até depois Melissa.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Em meu lugar

Ontem, fez uma semana que estive com você, na nossa solidão, não tão solitária quanto pensávamos. Queria te ver hoje, e te contar o sonho que tive. Foi tudo confuso e quase sem definição, para quem vê de fora. Mas eu pude ver, nitidamente seus olhos, e você caminhando ao meu encontro. Os fones de ouvido, desta vez estavam em seus lugares; e eu podia ouvir a música que saia deles, claramente. Era Coldplay. In my place. O ambiente era calmo, tranqüilo, e toda aquela paz se transmitia em seu olhar. Você chegou perto, me pegou as mãos e no sentamos em meio ao gramado. Lá, você cantou, até eu dormir. Quando acordei, você estava indo, ao longe, e a música tinha cessado, quando eu lhe pedi que ficasse comigo, você apenas disse, que “nosso caso,era o tempo passar." Foi então que acordei, com um sorriso bobo no rosto, e cantarolando a trilha do meu devaneio, caminhei até a janela, onde pude ver você, ao longe, passando pelo mesmo lugar, afastado, distante. Hoje, eu vi seu olhar pousando na minha janela, por um breve instante, lá de longe. Amanhã a gente se vê, do mesmo lugar, na mesma hora, assim que eu acordar do novo sonho que terei com você.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sereníssima

Estava irrequieta há alguns tempos, desses novos dias. Desde o dia que vi você, sentado naquele banco, envolvido em uma calmaria que me encantava, que me fazia querer estar ali do seu lado, nem que fosse só para te ouvir respirar. Não houve tempo, nem audácia suficiente pra eu me aproximar.Tenho a impressão que te vejo diariamente atravessando a praça em frente de casa, não sei se está indo, ou se está voltando. Hoje, determinei que veria mais de perto. Só para confirmar, só para abrandar toda apreensividade por aqui, por saber o que tanto você tem, que gravou seu rosto na minha memória tão inalterável. O tempo não está bonito, como aquela tarde, nuvens cinzas cobrem o azul celeste. Está parecido com a cor da blusa que você vestia. Talvez se te ver, o tempo melhore um pouco. Queria saber seu nome, para poder parar de me referir a você, em devaneios e aforismos, como Eduardo, foi o mais apropriado, pelo fato de carregar 'esperado' como principal significado. Esperei, esperei, mas o suposto você não passou por aqui hoje, como de costume. Suposto não, você mesmo. Sinto que é, sinto que cada vez que olho da janela, e vejo quem julgo ser você passar, com o jeito de andar tranqüilo, idêntico ao que acompanhei passo a passo, naquela praça, naquele dia, é como se algo gritasse aqui dentro para eu ir te encontrar, saber quem és, o que gostas, o tom da sua voz, e o que ouvia naquele dia. Ou, ao menos para ter uma daquelas conversas clichês:


-Tempo ruim, né?
-É...vai chover.
-E então,qual seu nome?


(...)

E assim, talvez, seria, o começo de algo que não explicar o que é.

Teu Mundo

Que horas são? Preciso lembrar que o tempo anda tão incerto, o sol sai e não demora, logo chove. E se eu quiser te ver, onde posso te encontrar? Não sei teu nome, não sei de nada além do que eu vi. E por que eu penso tão exageradamente em alguém que sequer conheço bem o nome? Reminiscências apenas. Eu vou sair, eu vou te procurar, no mesmo lugar, no mesmo horário daquela terça-feira. Pode ser que você esteje lá, pode ser que eu fique a te esperar. Pode ser que chova, é o que deve acontecer em instantes, e se chover vou te oferecer lugar sob meu guarda-chuva até encontrarmos uma marchise qualquer. Vai ser rápido. Como vai. Espero chegar até o outro lado da rua - onde está a marquise - e te dizer:
- Dessa vez foi de repente, não?
- É, foi sim. Estranho o tempo nesta cidade.
- Você também acha? Você não é daqui, é?
- Não, não sou. Minha família mudou-se para cá semana passada.
- Quer dizer que você está na cidade faz pouco tempo?
- É, viemos por causa da violência da cidade onde morávamos. Meus pais acham que lá pode ser perigoso demais para eu e meu irmão. E também por conta do emprego dele, foi transferido. Prefiro minha cidade...
- Ah, aqui não é tão ruim assim...
- Não acho. Aqui não tem nada. Poucas pessoas, poucos lugares para sair, o clima é inconstante... Além do mais só tem velhinhos jogando xadrez nas praças, para mim as únicas coisas legais aqui.
- [risos] É, aqui é bem calmo mesmo. Por isso gosto daqui.
- Você deve ser louco [risos].
- Com o tempo você se acostuma.
- NÃO! Nem me fale em acostumar-se, quero ir embora o mais rápido possivel.
- Mas você não disse que veio por conta do trabalho de teu pai.
- É, foi, estou quase perdendo as minhas esperanças.
- Onde tu tá morando?
- À duas quadras daqui.
- Vamos, vou contigo até lá. É melhor apressarmo-nos antes que volte a chover.
- Certo, mas só estou aceitando por conta do guarda-chuva, não quero me molhar.
- [risos] Que seja, vamos.

Caminhavamos as duas quadras quando comecei a cantarolar baixo uma canção qualquer...

- Que música é esta? - perguntou ela.
- Ah, nenhuma.
- Vai, diz qual é para ver se eu conheço.
- Acho que não, nunca conheci ninguém que conhecesse.
- Diz logo qual é...
- "Teu Mundo".
- Hã?
- Não disse que tu não conhecia.
- É Dois de Março quem canta.
- Nossa, tu conhece.
- Tanto a música quanto você. Não foi você quem estava naquela praça na terça-feira?
- Nossa, e eu achando que você não lembrava de mim.
- Ah, não tinha reconhecido, mas depois me lembrei sim.
- Desde aquele dia estava querendo saber qual era teu nome.
- Vamos fazer assim, se você adivinhar nós saímos hoje à noite, já que você é a única pessoa que conheço aqui.
- Ok, certo. Fechado!
- Vai, que nome tu acha que tenho.
- Deixa eu ver...é...bem... Alana ?
- [risos] Nossa, um nome diferente. Mas não, não é Alana não.
- E qual é?
- Hoje à noite na Praça do Jardim eu te digo. Às 20h.
- Ah, diz.
- Não, tenho que ir, moro aqui.
- Só o primeiro nome.
- Até às 20h.
- Tchau.
- Tchau.

Mas se isso não acontecer, mesmo assim, ainda será bom demais. É o bastante pra mim. E lembra que isso foi só um sonho, só mais um sonho à dois.

domingo, 14 de setembro de 2008

De onde vem a calma

Acordei com o sol adentrando o quarto, quis sair só. Vesti-me com jeans, e o um moletom confortável. Sai acompanhada das músicas que gostava de ouvir, da vontade de ficar sozinha, em qualquer lugar calmo.
Caminhei enquanto cantarolava canções para alguém que não podia ouvir. Lentamente, sentei-me no gramado de uma praça. As músicas acabavam ,e se repetiam. Anotações preenchiam as páginas antes em branco do caderno estendido no gramado, estava ali envolvida com a solidão que eu queria.
Seu celular tocou; você, agora com os fones de ouvido caídos sobre sua blusa clara, olhava calmamente o vento que levava uma das folhas ao seu lado para longe, e você não se preocupou em buscá-la. Prendi minha atenção em você, involuntariamente.
A praça estava deserta agora, exceto por nós dois. Perguntei-me se você havia acordado com o mesmo desejo de estar só, enquanto esboçava a sua imagem para mim.
Se fosse isso, nos enganamos, enquanto achávamos estar sós, mas estando ali ao acaso, solitariamente juntos.

Sapato Novo

Hoje eu quis fugir. Quis sair, ver somente pessoas que eu não conhecia. Isso, hoje, foi quase um lema. Eu queria o silêncio. Eu queria o vento. Eu queria poder não pensar em nada, enquanto eu lembro de você, a quem eu vi, que sequer sei o nome, ou o que gosta de fazer. Chove agora, chuva fina que banha as noites do mês de agosto. Mas não chovia, não naquele dia, em que te vi. Aquele casaco-moletom preto, o jeans azul, igual aos olhos teus. Não sei se o motivo de estares ali, sentada, era o mesmo que o meu, mas me lembro, tu me olhavas enquanto eu me virei ao atender o celular. Estavamos só nós dois, ali, naquela praça, num dia qualquer, num bairro qualquer, 5numa cena só, mas não de solidão.